sexta-feira, 25 de junho de 2010

E novamente ela fugia.

   


      Pelas ruas vazias onde se ouvia apenas murmúrios, a garota de longos cabelos negros fugia novamente. Ela avisara, não devia, porém avisou com toda a antecedência que poderia. Fugia tão lentamente que não aparentava fugir. Em seus braços os livros de estudo e literatura eram apertados contra seu peito com força. Como um abraço de despedida que ela não havia dado.

    Como as luas e estações mudam, ela mudava-se novamente. Era seu hábito, seu vício e sua sina fugir de tudo e de todos de quem um dia quis a companhia. Não chorava. Seria errado chorar, e ela não conseguiria mesmo se tentasse. Não que não sentisse dor em deixar tudo para trás, mas  não haviasofrimento nisso. Ela estava extasiada com a emoção do novo, os rostos, as pessoas, os nomes, os gostos, os lugares. O futuro era tão incerto que a excitava. Era isso que ela amava.

Parou um pouco. Sua corrente havia caído Abaixou-se, sentou na sargeta e prendeu novamente a corrente em seu pescoço. Sempre foi assim, sempre chegava a um ponto em que sentia a necessidade de ir embora. E esse ponto havia chegado novamente. O primeiro sinal foi sua liberdade. Quando ela já não sentia mais a necessidade das pessoas que a cercavam. O segundo sinal foi ver-se desnecessária aos que ela prezava. Quando já não fazia mais diferença se ela estava ou não no meio, como antes que ela chegasse. O último, que acarretou em sua fuga, havia acontecido aquela manhã. Ela olhou-se no espelho e viu quem queria ser. Sem metáforas, sem ajustes. Ela gostava do que via.

Estava feito. Arrumou suas malas com somente o melhor e o que mais gotava. pegou seus livros, acertou suas contas, jogou fora as lembranças daquele tempo, apagou suas marcas, e passou o dia distanciando-se cuidadosamente da realidade fantástica que vivera.

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