segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Jardim



Cansei de ser forte
cansei de ser fraca
Cansei do meu sentimento sem sabor.
Cansei de viver uma vida de ressaca.

Tanta raiva tanta coisa contida
Tanta fúria, tanto amor, quanto força.
Se foi difícil esconder tudo isso
inimaginavel dor seria mostrar.

Porém a jarra é pequena
e já começa a transbordar.
Se não beber dessa água
aos poucos vou me afogar.

Busquei tanto um ideal,
Corri tanto de uma idéia
Que me perdi em meus desejos
Que me cativei aquela.

Tanto quis e ainda quero,
a fortaleza que não tenho
Como desgosto e desprezo
a fraqueza que demonstro;

Um dia quis ser assim
Simples como as margaridinhas
Bela como os lírios do campo
Fazer da minha alma um jardim

Porém, tudo o que de bom
neste jardim floreceu
as ervas sufocaram
e crianças arrancaram

Persisto
Canso mas não desisto.
Que esse jardim morto
Ainda tem vida para viver

Peco pela minha pouca paciência
Também pela falta de resistência
Toda via, por favo não me julgue
É doloroso plantar e não ver florecer.

Antes mesmo de escrever
já era tomada por esse sentimento
Sentimento quase tão detestavel
quanto o infeliz discurso que o causa

Terrível é esperar em vão
sentir que não pode fazer nada
estar imobilizada enfrente a raiva
Por que não sei sofrer calada.

Espero, no entanto
que logo possa agir
que logo o tempo abra
e possa seguir na empreitada.

Só - Florbela Espanca


Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...

As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas

Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha ...

Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...