quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eu não gosto de chorar, vô, mas eu não consigo parar.



Eu tô sentido tanta saudade, não consigo aceitar que você foi.
Você ainda devia me ensinar tanta coisa, ainda queria jogar tantas partidas de xadrez com você.
Eu queria ter e abraçado quando fui te ver na UTI, queria ter aberto seus olhos pra você me ver, e ver o azul que agora só poderei lembrar, e a lembrança não faz juíz a ele.
Vô eu não queria chorar, por que sei que você tá bem. Mas tudo parece triste para mim agora. Vi no shopping um velhinho que parecia com você, queria abraça-lo por não poder mais abraçar você. Ah, vô. Chorei enquanto comia a sobremesa, por que sei que você estava comendo os mais fabulosos morangos com creme. Vô, eu tô tão triste por que não consegui te ensinar a usar o twitter, por que ninguém mais vai me perguntar se está tudo mais de clique. Tô triste por que não li todos os e-mails que você mandou, por que não conversei mais com você. Tô triste por que eu não fiquei mais 5 minutos na UTI com você, por não ter ligado mais vezes. Tô tão triste vô.
Queria estar tão feliz quanto você está agora. Eu sei que você partiu em paz. Sei que você sabe que a mamãe e eu fomos te ver. Sei que você sentiu quando beijei sua testa e fiz cosquinha nos seu pés. Vô, eu não sei quantos litros eu vou ter que chorar para ficar bem de novo. Mas eu vou ficar bem, vô.
Não se esqueça que eu te amo. Que eu amava conversar com você, que prestei atenção em todas as histórias que você contou, que gosto tanto de doces quanto você, que continuo tentando jogar xadrez pra chegar no seu nível, que vou querer te abraçar, beijar sua testa, desejar 'boa noite, sonhe com os anjos e não caia da cama'. Não se esqueça, meu vovô, que eu te amo.

Ah, vô. Queria que você tivesse me contado mais uma piada e me dado mais um abraço.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Outra vez

Vale a pena partir-se em dois,
ainda que para fugir do cativeiro?
É a esperança afiado cristal,
capaz de partir as amarras do medo?


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Júlia - parte 1

  Ela possuía olhos baços que em tudo lembravam a lua minguante. Na frieza com que examinava a relva, na fatalidade e na maré que enchia-lhe. Sua história não havia sido feliz e há tempos a alegria havia abandonado suas feições. Agora era só uma sombra, um esboço do próprio potencial.
  Não havia mais ambições, nem esperanças, aceitava a irrelevância qual o destino reservara para sua vida. Acordava de manhã, tomava um banho gélido, preparava o café da manhã sem gosto, servia a mesa para seu marido, aguardava-o descer ainda com o cheiro do álcool impregnado em sua boca, desviava de seus olhares, Ignorava suas tentativas de diálogo enquanto comiam, retirava a mesa, lavava a louça e afogava todos seus devaneios e rotas de fuga junto com os pratos debaixo da água corrente. Abafava o alívio que seu coração sentia ao ouvir o companheiro bater a porta e ligar o carro ao ir trabalhar. Então regava as plantas do jardim - tarefa que lhe era especialmente enfadonha - lavava e estendia as roupas, preparava um almoço sem graça - que não iria comer mas requentaria no jantar - limpava toda a bagunça da noite anterior, arrumava e varria toda a casa duas vezes, recolhia, passava e guardava toda a roupa.
  Por volta das seis da tarde tomava mais um banho gelado, dessa vez na banheira. Deixava de molho seu corpo frágil e toda sua mágoa. Pensava se doeria menos se a água entrasse em seus pulmões ou talvez, qualquer dia ele chegasse com uma arma, disparasse contra ela, e logo em seguida se enviasse para o inferno. Remoía por uma hora ou duas estas idéias, contudo as expulsava de sua mente.
  Ao se levantar da banheira, observava no enorme espelho sobre a pia, o que o amor de seu marido deixara marcado. -Não fosse o forte cheiro do álcool que ele sempre exalava ao chegar em casa, ela duvidaria que estivesse bêbado pois sempre acertava os golpes em pontos frágeis, que ficariam perfeitamente escondidos sob a roupa.- Vestia-se, penteava os cabelos, descia, esquentava e servia o jantar e ficava sentada no sofá, divagando sobre qual seria a desculpa do dia para o encontro de suas costelas com os nós dos dedos do marido e a que horas estava marcado, se esta noite ele só a usaria como um saco de areia ou também iria abusar dela. Ele nunca chegava muito tarde, tinha trabalho pra ir de manhã. Costumava bater e chutar a porta por perto das dez horas. Uma meia hora depois ameaçava tirar a vida da mulher se ela não abrisse a porta e começava a espanca-la assim que ela o fazia.
  Assim foram os primeiros 3 anos de casamento de Júlia e Augusto. Ela jamais o amou. Seu casamento foi uma armadilha, sua vida inteira foi uma armadilha.

domingo, 5 de agosto de 2012

Riso.

Tão bom sonhar.
Sonhei tantas coisas.

E o riso era tão lindo.

e era um sonho.
se desfez nos primeiros raios de sol.

É por ai.

As pequenas esperanças,
o quão belas são.
Quando não são tudo o que se tem.


Eu era feliz, por que seguia uma regra simples
que me levava pelo caminho seguro.
Baixas expectativas:
O que vier é lucro.

Mas um trágico dia, sem querer, 
deixe entrar pela boca
uma brisa que acendeu das cinzas
uma infantil esperançazinha.

Cresceu e virou incêndio
que não pude controlar.

e deixou em ruínas o meu mundinho 
construído em retalhos de felicidade. 

sábado, 4 de agosto de 2012

Boca

Mal raciocinou o cérebro e a boca já falou.
Não pensou duas vezes, sabe que errou.
A palavra lançada rasgou o coração alheio.
Que dó do meu que carrega agora o fardo do espelho.
Veneno mais letal é o que se profere: adoece a alma e ao outro fere.
Desculpas e perdidos de perdões a mágoa não apaga.
Sem dúvida, a dívida se paga.

 "palavras são erros..." 
-Legião urbana