quinta-feira, 21 de junho de 2012

Oficina de teste - Lisbeth

 Sua pele era mais vívida e corada que os outros, mesmo que bem alimentados. Perguntei como podia.
 - Como a maioria das mulheres humanas, maquiagem. Mas minha pele por baixo continua morta e gélida como a de todos.
 - Por que tanto esforço para parecer viva?
 - Gosto de lembrar de como era antes.
Andou um pouco pelo quarto, deslizando os dedos de mármore pela parede, e sentou-se ao meu lado.
 - Sabe, a maioria de nós mantem certa obsessão pela elegância. Não que isto seja uma exigência póstuma. Mas séculos observando a degradação humana, faz com que você se apegue à moral e bons costumes de sua época. No meu caso, apeguei-me à minha aparência mortal.
 Fitei admirado por alguns instantes aquela face rosada que, em uma olhada rápida, passaria despercebido da morte. Quem teria a coragem e a audácia de roubar a vida daquele rosto? Como se lendo meus pensamentos ela continuou.
 - Quando era criança, passava os dias imaginando o quão fantástico seria o paraíso. Cresci e me apaixonei por um rapaz, que me prometeu a eternidade. Infelizmente nossos conceitos de eternidade eram totalmente diferentes.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fly away from here.



If we just fly away from here
Our hopes and dreams
Are out there somewhere
Won't let time pass us by
We'll just fly.
(Aerosmith)

Lados

Já quis ser só parte de mim. Só a parte boa: aquela que dá orgulho pros pais, faz a coisa certa, não tem vergonha, é inteligente, simpática e só amores. Mas essa parte só existe dentro da outra. Da menina tímida, desastrada, sonhadora e boca-suja que erra todos os dias. Se uma se vai, a outra vai junto. Não posso mudar isso. Tudo o que posso é conciliar as duas partes. Por que todo mundo sabe que duas pessoas sempre ficam parecidas quando se dão bem.