Sua pele era mais vívida e corada que os outros, mesmo que bem alimentados. Perguntei como podia.
- Como a maioria das mulheres humanas, maquiagem. Mas minha pele por baixo continua morta e gélida como a de todos.
- Por que tanto esforço para parecer viva?
- Gosto de lembrar de como era antes.
Andou um pouco pelo quarto, deslizando os dedos de mármore pela parede, e sentou-se ao meu lado.
- Sabe, a maioria de nós mantem certa obsessão pela elegância. Não que isto seja uma exigência póstuma. Mas séculos observando a degradação humana, faz com que você se apegue à moral e bons costumes de sua época. No meu caso, apeguei-me à minha aparência mortal.
Fitei admirado por alguns instantes aquela face rosada que, em uma olhada rápida, passaria despercebido da morte. Quem teria a coragem e a audácia de roubar a vida daquele rosto? Como se lendo meus pensamentos ela continuou.
- Quando era criança, passava os dias imaginando o quão fantástico seria o paraíso. Cresci e me apaixonei por um rapaz, que me prometeu a eternidade. Infelizmente nossos conceitos de eternidade eram totalmente diferentes.
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